segunda-feira, 13 de julho de 2009

A Importância da Gestão Estratégica de Unidades de Conservação

A compreensão de que a estratégia consiste na realização de escolhas presentes que influenciarão no futuro das organizações é crucial para compreender a importância desta competência para a gestão de Unidades de Conservação.
Mais do que um conjunto de diretrizes, objetivos, indicadores, metas e planos de ações o planejamento estratégico representa uma oportunidade para as lideranças das UCs promoverem uma reflexão séria e coerente sobre os resultados que necessitam ser construídos pela gestão da unidade. Ao escolher os resultados prioritários, sob os quais exista governabilidade por parte da gestão, as lideranças estão essencialmente dizendo não a diferentes demandas, necessidades, desejos e expectativas que são continuamente acumuladas sobre as unidades de conservação.
Isto mesmo. Fazer estratégia é saber dizer não, como já reiterou Michael Porter (celebrado guru da estratégia).
No caso das Unidades de Conservação, saber dizer não é um grande desafio. Primeiramente porque ainda temos – felizmente – um grande número de gestores apaixonados e imbuídos de um sentimento de missão. Gestores estes que se frustram diariamente pela inexistência de condições de trabalho e se frustram ainda mais pela incapacidade de atendimento aos legítimos interesses da conservação, da sociedade e das comunidades. A paixão e o sentimento de missão, encontrados na gestão das UCs e incansavelmente buscados pela gestão de empresas privadas, que conferem às lideranças o compromisso e a dedicação necessários, possuem como efeito indesejável a “miopia de prioridades” e a falta de foco na condução da organização. A falsa percepção de que tudo é importante e a conseqüente conclusão de que nunca conseguiremos atender a todos provocam sofrimento e comprometem o desempenho das lideranças.
E em segundo lugar em função da crescente pressão por um sem número de demandas, muitas vezes legítimas, á qual estão submetidas o conjunto de unidades de conservação do nosso país. Quer sejam as pressões oriundas legitimamente da sua importância para a conservação da biodiversidade, quer sejam as pressões decorrentes da localização destas organizações (UCs) nas regiões mais isoladas, menos desenvolvidas, menos assistidas e mais carentes do nosso Brasil continental.
Apesar das dificuldades, o que a gestão estratégica propõe é contribuir com as lideranças das UCs no difícil e permanente exercício de solucionar uma equação onde os recursos escassos, para não dizer inexistentes, precisam ser eficientemente combinados para produzir os poucos, porém vitais resultados. Este exercício de pensar e agir estrategicamente pressupõe a compreensão do contexto social, econômico e ambiental da UC e precisa considerar a interlocução com as demais instituições e atores do sistema.
Identificar os poucos, porém vitais resultados e posteriormente organizar os recursos disponíveis para buscá-los. Este é o desafio da gestão estratégica das UCs. As metodologias e as ferramentas aplicáveis a este exercício podem variar muito, e algumas delas são bastante adequadas para a realidade das UCs brasileiras. Entretanto o que não pode faltar é foco, ou dito de outra maneira: o que não pode faltar é sabermos dizer não.
Rogério F. B. Cabral – NEXUCS

2 comentários:

Raimundo Nonato disse...

Caro Rogério,

Em primeiro lugar, parabéns pela iniciativa do blog.
Há alguns dias, durante a reunião do Conselho Consultivo da APA em que estou trabalhando, chamei a atenção para a grande importância de atentarmos para alguns dos pontos apresentados por você (necessidade de dizer não, priorizar, focar etc.) visando alcançar resultados. Em razão, talvez, da paixão que você menciona ou mesmo por inexperiência em lidar com as situações reais, pude perceber uma certa resistência a essas idéias por parte de alguns conselheiros e demais pessoas presentes... houve mesmo uma fala contra-argumentando a minha e sugerindo que deveríamos tentar atender tudo, uma vez que éramos responsáveis pela UC... isso mostra que o desafio é grande e começa dentro de casa ou, melhor ainda, dentro de nós...rs.rs.
Por fim, agradeço pela breve oportunidade que tive para aprender e compartilhar experiências com vocês... Abraços a todos e boa sorte no andamento dos trabalhos com as UCs do Norte!!!

Arlindo
Ex-Chefe da Reserva Extrativista do Cazumbá-Iracema

Rogério F. B. Cabral disse...

Arlindo,

Obrigado pela contribuição com um relato "vivo" das dificuldades de priorização e foco que vivenciamos no dia-a-dia da gestão das área protegidas.
Este é o nosso desafio: aprender a dizer não, para poder dizer sim.
E precisamos começar em casa, como vc disse. Orientando os órgãos gestores, os conselhos consultivos e nossos colegas para os resultados que as UCs precisam desesperadamente construir.
Grande abraço.